sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A Fúria dos Reis (Resenha)

Essa semana eu terminei de ler A Fúria dos Reis, e diferente das advertências que me foram passadas, achei ele um livro tão emocionante quanto o primeiro, talvez até mais!



Em alguns momentos, parece que você está lendo outra história, totalmente a parte do primeiro livro. Os personagens de A Guerra dos Tronos estão ali, Tyrion, Arya, Sansa, Catelyn, Bran, Daenerys, Theon (que agora conta com capítulos próprios) e Davos (um novo personagem na trama). Os eventos desse livro ocorrem imediatamente após o final do primeiro. Então o que justifica essa sensação?

A resposta é bem simples. O que mudou em A Fúria dos Reis foi o cenário. "Como assim, a história não se passa mais em Westeros?", sim a história ainda se passa nos 7 reinos, mas o cenário é completamente diferente.

Diferente do que acontecia em A Guerra dos Tronos, estamos falando de uma Westeros assolada por uma violenta guerra civil. Cinco homens se proclamaram reis e colocaram seus exércitos em marcha.

As intrigas ainda existem, mas ao invés da tensão pré-guerra do primeiro livro, temos agora desespero, destruição e todos os outros lados podres e obscuros da guerra. Em A Fúria dos Reis, o heroísmo dos cavaleiros sai de cena, dando lugar às torturas, saques, execuções e estupros. Ao invés de batalhas gloriosas e honradas entre inimigos, temos suor e sangue das paredes de escudos, além de pobres almas sendo assadas até os ossos por fogo químico. E não podemos esquecer da magia. Sim senhor, existe magia no universo fantástico de As Crônicas de Gelo e Fogo.

Esse é o principal mérito de George R. R. Martin já que continuações sempre correm o risco de ser um mais do mesmo, um ctrl c + ctrl v do antecessor, só que com uma roupa diferente. Não é o caso de A Fúria dos Reis, o cenário aqui tem vida própria e não há garantias de absolutamente nada.

Basicamente, nessa continuação acompanhamos a passagem de um misterioso cometa vermelho nos céus, enquanto ferve a "Guerra dos Cinco Reis", a disputa pelo domínio de Westeros. Os pretendentes são: Jofrey Baratheon, Rei do Trono de Ferro, Stannis Baratheon, herdeiro natural de Robert (uma vez provado que Jofrey é fruto da relação de incesto entre a Cersei e o Jaime), Renly Baratheon, Rei do Sul e do Jardim de Cima, Balon Greyjoy, Rei das Ilhas e Robb Stark, Rei do Norte. Os dois últimos não pretendem dominar os 7 Reinos, apenas parte dele...

Tyrion, Arya e Jon Snow continuam sendo personagens de destaque. O primeiro assume o papel de Mão do Rei, e concentra seus esforços para manter a (frágil) paz de Porto Real, além de tornar a cidade mais justa com os seus habitantes. Para isso, surge uma inesperada aliança (e até uma espécie de amizade) entre o Duende e a Aranha. Por falar nisso, algumas das melhores partes do livro são as conversas entre o Tyrion e o Lorde Varys.

Já a Arya acaba funcionando como o olho do leitor. A jovem princesa Stark testemunha as piores atrocidades da guerra, durante sua viagem ao lado de Yoren e os demais recrutas da Patrulha da Noite. Para a infelicidade da menina, ela acaba cruzando com o rastro de destruição deixado por Sor Gregor Clegane e Sor Armory Loch, os mais sádicos comandantes dos exércitos Lannisters. Os capítulos da Arya ainda acabam acrescentando na trama um interessante assassino chamado Jaqen H'ghar, cujas ações causarão um grande impacto no andamento da guerra.

Jon Snow é responsável pela parte mais fantástica e heróica do livro. A campanha da Patrulha da Noite ao norte da Muralha é de encher os olhos dos mais veteranos jogadores de RPG. Destaque para o destemido Qhorin Meia-Mão, comandante da Torre da Sombra. De todos os Patrulheiros da Noite que apareceram até agora, Qhorin foi o mais... Foda. Qualquer outra palavra não fará jus ao personagem.

A senhora Catelyn Stark assume um papel de diplomata em meio ao caos. Depois de perder o marido, tudo que ela quer é ter as filhas de volta e impedir que seu filho mais velho seja morto em alguma batalha estúpida. Falando no Robb, o jovem Rei do Norte é totalmente colocado de lado nesse livro. No decorrer da história ficamos cientes que ele conquistou grandes vitórias sobre o exército Lannister, mas descobrimos isso através de meros relatos.

Outra que tem um papel ligeiramente menor do que teve no livro anterior é a Dany, motivo por qual eu sou grato! A horda Dothraki era a parte que eu menos gostava em A Guerra dos Tronos. Os dragões, por serem muito novos, ainda pouco acrescentam à trama da última Targaryen.

Para mostrar o lado de Satannis Baratheon na guerra, somos apresentados ao ex-pirata e atual conselheiro do Stannis, Lorde Davos Seaworth. Davos também é um projeto de substituto para Ned Stark, apresentando algumas características em comum com o antigo senhor de Winterfell, como honra, sinceridade, ousadia, integridade e whatever. Nada contra o personagem, ele desempenha bem o papel dele, é um excelente estrategista e tem um caráter admirável, mas Ned Stark é insubstituível, na bravura e na burrice.

E o que falar de Theon Greyjoy? O desenrolar da trama do jovem príncipe das Ilhas de Ferro é no mínimo curioso. Theon é enviado de volta para o seu lar depois de 10 anos, para levar ao seu pai, Balon Greyjoy (Senhor das Ilhas de Ferro), a convocação do Rei do Norte. No decorrer do livro ele acaba traindo o Robb Stark e seus antigos companheiros. Sob o comando de seu pai, ele lidera um ofensiva de piratas, atacando as cidades litorâneas do Norte e tomando Winterfell (isso ele faz por conta própria). Mas fica evidente que esse não era o plano inicial dele. Theon nunca escondeu ser um maú caráter ganancioso, mas percebe-se também que a traição dele é o típico caso do garoto estúpido, ingênuo e ambicioso que deu um passo maior do que as pernas, e que apesar de se arrepender (um pouco) dos seus atos, cometeu erros imperdoáveis e não pode mais voltar atrás.


Outra grande diferença do primeiro livro é a presença do sobrenatural. Em A Guerra dos Tronos, fomos apresentados à um mundo mais parecido com o nosso. Magia, dragões, deuses, monstros... Faziam parte de um passado tão distante, que muitos consideravam tais elementos nada mais do que lendas. Apenas no final de A Guerra dos Tronos descobrimos que os dragões eram reais. Em A Fúria dos Reis, somos apresentados à uma antiga religião do leste, seguidores de R'hlor, cujos "sacerdotes vermelhos" realizam magia de verdade. Um desses sacerdotes é a bela feiticeira Melisandre, principal conselheira do Rei Stannis. E no norte da Muralha, Jon Snow e a Patrulha da Noite esbarram com criaturas saídas de pesadelos, como Gigantes e Wargs.

Um dos focos místicos desse livro é o cometa vermelho. É interessante ver cada personagem dando seu ponto de vista sobre o real significado do evento astronômico, e o efeito psicológico dele na vida de diferentes povos. O cometa acaba se tornando uma espécie de catalizador para os eventos mágicos em A Fúria dos Reis. Se é um mero astro vagando pelos céus, um Deus da Luz retornando à Westeros ou o sinal do renascimento dos dragões, só o Martin sabe.

Outro ponto sobrenatural bem legal apresentado na história, é o vínculo dos Starks com seus animais. Aparentemente, enquanto os príncipes de Winterfell dormem, conseguem possuir os corpos de seus lobos gigantes.

Quanto ás escaramuças, o clímax fica por conta da Batalha da Água Negra, uma sequência de combates marítimos e terrestres nos portões de Porto Real, que acontecem no final do livro. É de deixar até os fãs do Bernard Cornwell impressionados (mas o BC continua sendo o melhor nesse aspecto). Destaque para as proezas de Tyrion Lannister lutando nos portões, o anão consegue subir ainda mais no conceito dos leitores.

Adicionando muitos personagens interessantes e matando um número ainda maior deles, A Fúria dos Reis é um livro incrivelmente imprevisível, sujo, sangrento e humano, que deu continuidade à revolução literária fantástica iniciada em A Guerra dos Tronos. Espero que a transposição para a TV não fique devendo muito... E mal vejo a hora de começar a ler A Tormenta das Espadas.

Nota: ★★★★☆
Winter is Coming...