segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dia de São Jorge

23 de abril é o dia do mais macho dos santos católicos, o guerreiro São Jorge (para se ter uma idéia, seu feito mais famoso foi ter matado um dragão). A lenda de São Jorge se mistura bastante com a lenda do guerreiro mitológico escandinavo Siegfried, também conhecido pela sua perícia em combate, determinação e por ser um exímio assassino de dragões. Sendo assim, como muitos dos elementos da mitologia cristã que foram incorporados de outras mitologias, é bem possível que o santo e o guerreiro viking sejam duas faces da mesma divindade.

Na lenda cristã, Jorge foi um capadócio que ainda cedo ingressou no exército romano e rapidamente ganhou notoriedade devido a sua força de vontade, disciplina, habilidade e bravura. Promovido à capitão, Jorge jamais abandonou os princípios cristãos de fraternidade, buscando sempre auxiliar os necessitados. Infelizmente, nessa mesma época o imperador Diocleciano reabilitou velhas tradições romanas e promoveu uma grande caçada de sangue aos cristãos. Jorge foi torturado em uma tentativa de fazer o guerreiro renegar a própria fé, o que obviamente não aconteceu. Os romanos percebendo que torturas físicas e psicológicas não surtiriam efeito no guerreiro, o assassinaram no dia 23 de abril de 303.

O famoso feito contra o dragão e o resgate da princesa (muito semelhante ao que Siegfried fez com Brunhilde) seria inserido na lenda durante a idade média. Cronologicamente, Jorge já havia sido nomeado capitão nas legiões romanas quando essa batalha aconteceu. 


São Jorge é o santo padroeiro da Catalunha, de Portugal e principalmente da Inglaterra, cuja identificação com o santo era tamanha, que a bandeira do país é a cruz vermelha de são Jorge com o fundo branco.  

Brados como "por São Jorge!" eram frequentemente gritados em campos de batalha ingleses, e como os ingleses nunca perderam a chance de sair na porrada com alguém, vocês podem imaginar como as bençãos do santo guerreiro foram invocadas no último milênio. O próprio discurso de Henrique V na épica batalha de Azincourt, imortalizado por Shakespeare, demonstra esse poderoso vínculo do povo inglês com o seu santo protetor:

 'Once more unto the breach, dear friends... for God, for Harry, for England and Saint George!'  

São Jorge representa acima de tudo, determinação e fidelidade, já que em vida, mesmo nas situações mais adversas e desesperançosas, ele permaneceu leal aos seus princípios. E morreu por eles.  

Por essa razão, o santo também é o padroeiro do time de futebol que possui a torcida mais "Fiel" de todas, o meu amado Sport Club Corinthians Paulista. E por esse motivo, eu resolvi prestar minha homenagem com esse post à São Jorge Guerreiro no dia de seu nome. Que em horas de desespero, ele nos abençoe com a mesma bravura e determinação que teve em vida.


"... Eu andarei vestido e armado, com as armas de São Jorge, para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem, e nem em pensamento eles possam ter para me fazerem o mal, armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças quebrarão sem meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrarem"...
  

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Bolinhos de Bebê

Um texto tão curto quanto cruel, cujo nobre objetivo é chocar e conscientizar, destacando o tratamento perverso que animais recebem em laboratórios.


"Alguns anos atrás, todos os animais foram embora. Acordamos uma manhã e eles simplesmente não estavam mais lá. Nem mesmo nos deixaram um bilhete ou disseram adeus. Nunca conseguimos saber ao certo para onde foram.

Sentimos sua falta.

Alguns de nós pensaram que o mundo tinha se acabado, mas não tinha.

Só que não havia mais animais. Não havia mais gatos ou coelhos, cachorros ou baleias, não havia peixes nos mares, nem pássaros nos céus. Estávamos sós.

Não sabíamos o que fazer.

Vagueamos por aí, perdidos por um tempo, e então alguém observou que, só porque não tínhamos mais animais, não havia motivo para mudar nossas vidas. Não havia razão para mudar nossa dieta ou parar de testar produtos que podem nos fazer mal.

Afinal de contas, ainda haviam os bebês. Bebês não falam. Mal podem se mexer. O bebê não é uma criatura racional, pensante.

Fizemos bebês.

E os usamos.

Alguns deles, comemos, Carne de bebê é tenra e suculenta. Esfolamos suas peles e nos enfeitamos com elas. Couro de bebê é macio e confortável.

Alguns deles, usamos em testes.

Mantínhamos seus olhos abertos com fitas adesivas e pingávamos detergentes e shampoos neles, uma gota de cada vez.

Nós os marcamos e os escaldamos. Nós os queimamos. Nós os prendemos com braçadeiras e plantamos eletrodos em seus cérebros. Enxertamos, congelamos e irradiamos.

Os bebês respiravam nossa fumaça e, na veia dos bebês, fluíam nossos remédios e drogas, até eles pararem de respirar ou até o sangue deles não correr mais.

Era duro, é claro, mas necessário.

Ninguém podia negar isso.

Com a partida dos animais, o que mais podíamos fazer?

Algumas pessoas reclamaram, claro. Mas elas sempre fazem isso.

E tudo voltou ao normal.

Só que... Ontem, todos os bebês se foram.

Não sabemos para onde. Nem mesmo os vimos partir.

Não sabemos o que vamos fazer sem eles.

Mas pensaremos em algo. Humanos são espertos. É o que nos faz superiores aos animais e aos bebês.

Vamos bolar alguma coisa".


- Retirado do livro "Fumaça e Espelhos - Contos e Ilusões" de Neil Gaiman


Winter is Coming...